5 de março de 2015

Fotos antigas de carros antigos: Praga, 1970



A antiga Tchecoslováquia, até pelo menos pouco tempo após a Segunda Guerra, era referência mundial em engenharia e design automotivo de vanguarda, com fabricantes como a Tatra que se tornaram pioneiros em diversas soluções técnicas inovadoras e em estudos relacionados à aerodinâmica aplicada ao automóvel. Contudo, após assinar o Pacto de Varsóvia com a União Soviética, em 1945, o país ─ hoje pacificamente repartido entre República Tcheca e Eslováquia ─ passava a ser regido por um Estado socialista e de economia planificada. Com um mercado sempre pautado em suprir necessidades básicas e praticamente isento de concorrência, modelos cada vez mais duradouros prevaleciam nas linhas de produção, sendo privados de muitas atualizações tecnológicas.

Apesar disso, modelos tchecos como o Tatra 603 e o Škoda 110 R atestavam uma certa rebeldia e um enorme potencial criativo que foram reprimidos pelas condições inflexíveis do mercado. O lado positivo é que foram muito além de carros como Wartburg 353, Dacia 1300, Moskvich 408 ou Lada Zhiguli (aqui conhecido como Laika).

As fotos a seguir vêm do extenso álbum pessoal de um holandês, que segundo ele mesmo, visitou a capital tcheca em outubro de 1970 ─ pouco mais de dois anos após o episódio da Primavera de Praga, quando a aparição de tanques soviéticos acabaram com a esperança de redemocratização e da volta de liberdade de expressão ao país. Como o acesso aos países da cortina de ferro era muito mais restrito e burocrático, deveria ser um privilégio ter a oportunidade de apreciar principalmente as belezas arquitetônicas e seculares de Praga.

Quanto aos carros, não era aparentemente tão difícil flagrar modelos quarentenários e até cinquentenários sobrevivendo em pleno uso diário. Nos países socialistas, um automóvel na mão de um cidadão comum deveria literalmente durar até acabar, pois os preços eram altos até mesmo para os modelos mais simples e as filas de espera postergavam durante meses. Tudo parecia ser válido para prolongar a vida de um automóvel superado pelo tempo, partindo das mais mirabolantes "experiências caseiras" que de uma forma ou de outra compensavam até mesmo a reposição de peças de carros cujos fabricantes já haviam desaparecido.

O Praga Alfa (produzido entre 1929 e 1931), na foto acima, ostentando um bagageiro no teto ao transitar por uma marginal do rio Moldava (Vltava), revela sua disposição para muitos anos que viriam à frente. Carros de idades e situações similares poderão ser vistos a seguir contrastando com a presença de modelos mais atuais.




Trecho da Praça Wenceslas (Václavské náměstí), o centro financeiro e cultural de Praga, em direção ao Museu Nacional (Národní muzeum). Em primeiro plano, um GAZ-21 Volga azul e um Wartburg 311 Limousine vermelho; mais à frente, um Škoda Octavia Combi.



Vista da ponte ferroviária Vyšehrad (Vyšehradský železniční most) sobre o rio Moldava a partir da rua Na Moráni, no distrito de Praga 2. Na pista, uma fileira predominantemente de Škodas, sendo possível ver os modelos Octavia, série 100/110, 1000 MB e 1201.



Um Tatra 30, produzido entre 1926 e 1928, aparentemente bastante íntegro e preservando detalhes originais como as luminárias laterais ─ a do lado do motorista era um acessório conhecido no Brasil antigamente como farol 'caça-mulatas'.



Sinais de maus tratos são evidentes neste Walter Junior, aparentando ser um carro de uso diário desde o dia em que deixou as linhas de montagem, e na época da foto, perto de completar quatro décadas de existência. O modelo em questão era na verdade uma das versões do Fiat 508 Balilla produzida na década de 30 sob licença pela Walter, um dos maiores fabricantes tchecos de aviões da época. À direita, um GAZ-21 Volga preto servindo como táxi.



Também não muito bem tratado, este Škoda 633, produzido entre 1931 e 1934, exibe imponência em contraste com o desgaste da pintura em seu para-lama.



Extremamente descaracterizado, este Tatra 57 B (1938-1949), nascido como um cupê de dois lugares, acabou virando uma perua de quatro portas. Como já mencionado, uma das sinas do cidadão de um país socialista era prolongar ao máximo a vida útil de seus bens.



Este Praga Piccolo dos anos 30 não parece se intimidar com o tempo; ganhou até três faroletes e piscas de modelos mais modernos. A Praga, assim como a Walter, é uma de inúmeros fabricantes locais que sumiram durante ou após a Segunda Guerra.



Mais outro Tatra 57, desta vez o modelo da primeira geração, produzido de 1932 até provavelmente 1936. Este, apesar de manter seu formato, já possuía todos os detalhes cromados pintados na mesma cor da carroceria e um trabalho de funilaria largado pela metade na tampa do radiador ─ este curiosamente lacrado por um cadeado. O bagageiro no teto mostra a sua disposição para o trabalho pesado.



De bônus, duas fotos do mesmo fotógrafo de uma outra visita em agosto de 1971. Nesta acima, um GAZ-21 Volga em primeiro plano na avenida praça Wenceslas, antes da entrada na rua Jindřišská. No terreno vazio à esquerda, foi erguido um prédio da Debenhams, uma rede britânica de lojas de departamento.



Por fim, esta segunda, tirada na praça Hradčany (Hradčanské náměstí), no distrito de Praga 1, mostrando a entrada do Castelo de Praga. À esquerda, os dois do velho conhecido e tradicional ônibus Škoda 706 RTO. É possível também notar a presença de ilustres forasteiros, como o Volvo Amazon, e lá bem no fundo, um Renault 4CV e um Citroën DS.


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Um comentário:

  1. São maravilhosos esses veículos os quais retratam um momento da História Humana em superioridade cognitiva.

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