27 de julho de 2015

Rotamaq, a linha de montagem circular da Gurgel


Entrou para a história do automóvel no Brasil o desfile do dia 7 de setembro de 1987 de Brasília, simbolizando naquela ocasião a data de independência tecnológica da indústria automobilística local. Celebrava-se merecidamente a passagem e a apresentação ao público presente dos protótipos do que viria a ser a próxima tentativa de um carro 100% brasileiro, até mesmo de conjunto motriz; a única, no entanto, que vivenciou o martírio de uma efêmera realidade. É bem provável que o BR-800 tenha finalmente mostrado a verdadeira razão que justificava a existência da Gurgel, mesmo após uma vida inteira dedicada à produção de veículos utilitários e fora-de-estrada. No entanto, o mais "teimoso" dos sonhos de João Augusto Conrado do Amaral Gurgel (1926-2008) era produzir o "carro popular" ─ trocando em miúdos, um veículo compacto, econômico e acessível a grande parte da população.

Tentar competir em um dos segmentos principais dos quatro grandes fabricantes instalados no Brasil seria inevitavelmente entendido como uma afronta ao status quo da ausência de concorrência. A eliminação desse mercado que estava muito distante de ser liberal, através de "forças ocultas", seria inevitável. A breve existência do BR-800 (e também do Supermini, sua variação um pouco mais refinada) foi o último suspiro de uma visão de mundo cabia um fabricante de automóveis totalmente brasileiro que pudesse alavancar sua produção de milhares para milhões. De qualquer forma, tão curioso quanto o próprio carrinho, era a maneira bastante peculiar de como saía da fábrica.


Muitas das ideias que fervilhavam na mente geniosa de Gurgel transcendiam os automóveis e algumas delas se materializavam na forma de processos de fabricação e também renderam algumas patentes. A mais importante delas era o Plasteel, uma estrutura composta com uma armação de tubos de aço de seção quadrada coberta por camadas de fibra de vidro, introduzida originalmente em uma variação aperfeiçoada do Ipanema, o primeiro modelo da marca. Com eficácia garantida até mesmo pelas forças armadas, o Plasteel viria a partir de então compor a carroceria de toda a linha Gurgel que viria a surgir.

Para a produção do BR-800, Gurgel desenvolveu um curioso sistema de linha de montagem circular, se assemelhando a um carrossel, tendo como maior preocupação a racionalização de espaço e tempo de produção. Denominado de Rotamaq, o sistema contemplava os estágios finais da produção, como a aplicação dos componentes mecânicos e de partes do acabamento. As seis plataformas incluídas eram inteiramente ajustáveis de acordo com a posição dos operários, sendo que eram não só ergonomicamente corretos como também proporcionavam uma visão global de toda a montagem dos carros, consequentemente tornando os operários capacitados para eventuais remanejamentos.

O Rotamaq poderia ser inteiramente automatizado, dependendo apenas das necessidades da fábrica. Em contrapartida, os estágios anteriores de fabricação seguiam inevitavelmente os métodos tradicionais e nenhum outro fabricante ─ pelo menos no Brasil ─ se arriscou a tentar algo parecido. Uma coisa é certa: cabia perfeitamente às necessidades da fábrica.

As fotos que ilustram esta postagem foram feitas muito provavelmente em 1991, alguns meses antes do lançamento do Supermini, mas já contando com a ilustre presença do MotoMachine (observe nas duas fotos anteriores), introduzido naquele mesmo ano. Felizmente, a qualidade das fotos faz jus à importância deste registro inédito.













De bônus, duas fotos datadas em dezembro de 1988 de uma carreta prestes a transportar os primeiros BR-800 para seus ansiosos compradores. A terceira e última foto, em preto branco, corresponde a outro lote de carros.





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5 comentários:

  1. Fantástico. E assim foi um grande projeto que o Brasil perdeu.

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  2. Por favor, onde você conseguiu essas imagens da fábrica da Gurgel? Estou organizando uma exposição sobre a história da indústria brasileira e preciso de fotos como essa. Mas, como é um evento público, preciso da autorização do detentor dos direitos
    autorais.

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    1. Consegui neste álbum de alguém da família Gurgel: https://www.flickr.com/photos/rigurgel/sets/72157632059731493
      Como as imagens foram feitas pela própria fábrica para fins de divulgação (algumas delas, inclusive, aparecem em catálogos da época), então eu acredito que não haverá problemas com direitos autorais.

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  3. até que enfim encontrei uma matéria sobre o assunto! parabéns pela mesma!

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  4. Excelente matéria, o verdadeiro sonho brasileiro de ter uma marca de automovel 100% nacional !!

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